sexta-feira, 27 de novembro de 2009

GEOGRAFIA AGRÁRIA:

O COMÉRCIO MUNDIAL DE ALIMENTOS

A agricultura tem por finalidade produzir alimentos e matérias-primas para o homem. No entanto a produção voltada à subsistência acabou sendo complementar às culturas comerciais ou às atividades urbano-industriais. Este processo de reduzir a produção de alimentos atingiu violentamente os países de Terceiro Mundo e a conseqüência desta inversão de valores está no elevado número de famintos no planeta.
Nos últimos anos, o comércio de alimentos também tem sido alvo de disputas entre os países.

Os Estados Unidos querem um mercado livre, mas não abrem mão dos seus subsídios. Por outro lado, a União Européia e o Japão são ferrenhos defensores da prática de defesa de seus mercados e da política de subsídios. Os países do Terceiro Mundo acabam sendo os grandes prejudicados.

A AGRICULTURA EUROPÉIA

Na economia agrária da Europa Ocidental, as formas de produção agrícola foram transformadas pela introdução de técnicas industriais no trabalho da terra, como, por exemplo, fertilizantes, agrotóxicos, tratores e colhedeiras. A terra é usada de forma intensiva, em pequenas propriedades e um sistema tradicional de cultivo, a rotação trienal, que não deixa espaços ociosos.

1º ANO Trigo e Centeio e Forrageira
Beterraba Batatinha
2º ANO Centeio e Forrageira Trigo e
Girassol Beterraba
3º ANO Forrageira Trigo e Centeio e
Beterraba Batatinha

A produtividade agrícola da União Européia é bem menor que a dos Estados Unidos, e isto levou os europeus a criarem a Política Agrícola Comum (PAC) com três princípios básicos:
ü Unificação dos preços para determinado produto;
ü Preferência de compras para produtores europeus e taxas comuns de importação;
ü Subsídios- ajuda financeira aos produtores

Em 2000, a União européia gastou em subsídios com a agricultura e a pecuária um total de US$38,9 bilhões. Isto equivale a 2 vezes e meia a verba destinada pelo governo brasileiro à educação em 2001.




A AGRICULTURA DOS ESTADOS UNIDOS

Os EUA ocupam o primeiro lugar na produção agrícola mundial. Os estabelecimentos agrícolas familiares (farmers) representam 95% do total das propriedades rurais e participam com 60% do valor da produção agropecuária do país. As grandes empresas agroindustriais atuam principalmente na comercialização e no beneficiamento dessa produção.

A produção agrícola é altamente mecanizada e automatizada, distribuída pelo zoneamento em cinturões ou “belts”. A localização destas áreas ou cinturões leva em consideração os tipos de clima e o acesso ao mercado.

A AGRICULTURA DO MUNDO SUBDESENVOLVIDO

-AGRICULTURA INTINERANTE

É feita na África e América Latina. É uma agricultura de subsistência e feita de forma extensiva. Leva o solo ao esgotamento após alguns anos, devido à prática como é feita: derrubada de mata, plantio e colheita, logo a seguir, queimada para “limpeza”, plantio e colheita. Os solos se esgotam rapidamente o que obriga a população a procurar novas áreas e repetir todo o processo.

-A AGRICULTURA DA ÁSIA DAS MONÇÕES

Agricultura tradicional do Sul e Sudeste da Ásia, também conhecida como Rizicultura inundada, é praticada em pequenas áreas com mão-de-obra numerosa (jardinagem) e técnicas tradicionais: terraceamento, adubação e irrigação. O arroz é o principal gênero cultivado. Como o produto é muito dependente da abundância de água, o seu plantio coincide com a época chuvosa.

-A AGRICULTURA DE PLANTATION

Caracteriza-se por ser uma monocultura de exportação de gêneros tropicais, desenvolvida em latifúndios e utiliza muita mão-de-obra. É voltada para atender à necessidade de gêneros alimentícios e de matérias-primas agrícolas por parte dos países industriais. O crescimento da plantation agravou a dependência econômica e a pobreza dos países da Ásia e América Latina.
OUTROS ASPECTOS DO SETOR

01- O PROBLEMA DA FOME

Apesar de países do Terceiro Mundo serem exportadores de gêneros alimentícios, é exatamente nesta área que a fome e a desnutrição atingem um número elevado de pessoas. Quais as razões que podem justificar este fato?

ü A modernização agrícola acarretou a valorização das terras e a elevação dos custos de produção, provocando desemprego no campo e aumentando a concentração fundiária;

ü A agricultura nos países atrasados tende a privilegiar a produção para o mercado externo, em detrimento da produção de alimentos para o mercado interno;

ü As grandes empresas transnacionais monopolizam a produção e a distribuição de alimentos, impondo preços e dificultando o desempenho do pequeno produtor.


02- A REVOLUÇÃO VERDE

A Revolução Verde foi concebida nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Os países desenvolvidos visavam criar uma estratégia de elevação da produção agrícola mundial através da utilização de um pacote tecnológico. Para isso, procurava-se fazer uso de sementes melhoradas geneticamente. Empresas transnacionais do setor eram as grandes interessadas no processo, já que eram fornecedoras de sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas. Os grandes beneficiados foram os grandes proprietários, as empresas agrícolas e as empresas fornecedoras de insumos para a agricultura.

03- BIOTECNOLOGIA

A Biotecnologia começou a apresentar os primeiros resultados em meados da década de 80. Por volta de 1986, as primeiras plantas modificadas geneticamente começaram a ser testadas no mundo e hoje, a área total plantada com cultivos transgênicos, principalmente soja, milho, algodão, canola e batata já ocupam mais de 28 milhões de hectares. O Canadá e os Estados Unidos são os que mais se destacam na produção de transgênicos. Um dos aspectos positivos da utilização de plantas geneticamente modificadas é o aumento da produtividade que ela proporciona, criando plantas mais resistentes às pragas. Com isso pode ocorrer um aumento da produtividade e o conseqüente barateamento nos produtos agrícolas.

A AGRICULTURA BRASILEIRA

Desde os anos 70, a agricultura brasileira tem três objetivos:

1º. Dar todo o tipo de incentivo aos cultivos voltados para exportação. Fortes subsídios estimularam a produção de soja e de laranja, principalmente.

2º. Produzir matéria-prima para o setor industrial. O crescimento econômico do país não podia ser prejudicado pela falta de matérias-primas e energia. Grandes complexos industriais surgiram em decorrência desta política.

3º. Produzir alimentos para o mercado interno. Como as maiores e melhores terras foram reservadas aos dois primeiros objetivos, este não foi atingido.

O incentivo a produção de soja, laranja e cana-de-açúcar, entre outros, promoveu uma grande concentração fundiária, fazendo desaparecer a figura do pequeno proprietário.

Uma outra conseqüência foi a redução na oferta de gêneros alimentícios à população e o inevitável aumento nos preços destes gêneros. As relações de trabalho passaram a refletir a penetração do capitalismo no campo, com a ampliação do trabalho temporário e o surgimento do “bóia-fria”.

A formação de complexos agroindustriais é uma forma de inter-relação em ter o campo e a cidade, onde o campo fornece matéria prima à indústria e a indústria fornece maquinários e insumos para a agricultura.

A ESTRUTURA FUNDIÁRIA

Existem aproximadamente 35.083 latifúndios improdutivos com área superior a 1000 hectares. Eles abrangem 153 milhões de hectares, um território equivalente aos da França, Espanha, Alemanha, Suíça e Áustria somados. Com tantas terras nas mãos de poucos e vastas extensões improdutivas, aqueles que não tem acesso à terra sentem-se estimulados a lutarem pela sua posse. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem como bandeira de luta a invasão de propriedades improdutivas como forma de pressionar o governo a agilizar o processo de assentamento dos sem-terra.

Essas desigualdades existentes nas formas de uso do solo, bem como a submissão ao mercado esterno, contribuem para fazer do campo um verdadeiro palco de duradouros conflitos pela posse e exploração da terra. De um lado, os pequenos proprietários, os posseiros, os meeiros e os bóias-frias, e, do outro lado do “front”, os grileiros, os latifundiários, as grandes empresas agrícolas nacionais e internacionais.

Desde os anos 80 já foram distribuídos 30 milhões de hectares de terra a 618.000 famílias.

Nos dois governos FHC cerca de 500.000 famílias receberam seu lote. No entanto, a renda dos lotes é muito baixa e cerca de 30% dos beneficiados abandonam o lote. Mais ou menos, 40% retiram do assentamento apenas o necessário para a subsistência e somente 30% melhoram de vida depois de receberem a terra.

AS RELAÇÕES DE TRABALHO

As relações de trabalho sofreram uma grande modificação depois dos anos 80, com o aparecimento das empresas rurais, que utilizam capitais urbanos. Os trabalhadores permanentes, aqueles que são contratados com vínculo empregatício, aparecem em número reduzido.

A maioria das empresas agropecuárias dá preferência a trabalhadores temporários, que são contratados nas épocas de maior necessidade, sem qualquer vínculo empregatício. O bóia-fria é o mais comum.
A maior parte das propriedades rurais é explorada diretamente pelos proprietários. Em pequenas propriedades a exploração é realizada de acordo com as necessidades do mercado e não com a de seus donos, já que o mercado determina o que se deve produzir.
OUTROS ASPECTOS DO SETOR:

1º. NOVA RELAÇÃO TRABALHISTA

A industrialização da agricultura implicou mudanças no modo de produzir e nas relações sociais de trabalho. Parte dos trabalhadores agrícolas dispensados pela mecanização das lavouras já não migra para as cidades, devido às novas oportunidades de emprego geradas no próprio meio rural. Motoristas, arrumadeiras, gruías de turismo, operadores de máquinas, garçons e pedreiros, são algumas das profissões em alta no campo.

2º. O AVANÇO DA BIOTECNOLOGIA

O Brasil vem investindo, através da EMBRAPA
- Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária
- em agricultura de precisão, para reduzir a diferença tecnológica que o separa de países como EUA, o Canadá e o Japão, apesar da biotecnologia confrontar ambientalistas e empresas produtoras de plantas geneticamente modificadas.

No Centro-Oeste, o milho e a soja são os produtos mais beneficiados, uma vez que o produtor já tem ao seu alcance mapeamento de pragas, o que permite a aplicação de quantidade exata de defensivos; sensores que medem a deficiência de nitrogênio ligado a fertilidade e até a quantidade de calcário que ele tem que jogar para corrigir a acidez do solo é feito cientificamente. Estudo de genomas e o de irradiação de alimentos – para conservação e exportação, estas em faze adiantadas de pesquisa.

Atrasada pelo menos dez anos na competição por melhor produtividade agrícola, a união Européia precisa de tempo para chegar ao mercado mundial de insumos e tentar fazer competição às sementes transgênicas de origem estrangeira.


INDICAÇÃO DE LEITURA ON-LINE:

RELAÇÕES DE TRABALHO NA AGRICULTURA MECANIZADA: A MONOCULTURA DA SOJA EM GOIÁS
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-81.htm